A Independência na Educação

(Francisco Stolf Netto)

O Colégio “Culto à Ciência”: O Maçom Antônio Pompeo de Camargo, ilustre e próspero agricultor de Campinas,  foi o idealizador do Colégio “Culto à Ciência”. Em 6 de fevereiro de 1869, um manifesto, assinado pelos Maçons Antônio Pompeo de Camargo, Manoel Ferraz de Campos Salles, Jorge de Miranda, Joaquim Quirino dos Santos e Cândido Álvaro de Sousa Camargo, informou à população de Campinas, sobre a criação da “Sociedade Culto à Ciência”, que propugnava pela instalação, em nossa cidade, de um estabelecimento regular de ensino primário e secundário, que realizasse, com sucesso, o aperfeiçoamento moral e intelectual de seus alunos, onde a sociedade e o Estado deveriam ser neutros em  matéria religiosa, que propugnasse pelo ensino Laico e onde prevalecesse a liberdade de pensamento, de culto e de consciência.

Na primeira Assembleia da Sociedade, realizada em 19 de maio de 1869, foi eleita a primeira diretoria, composta pelos Maçons: Joaquim Bonifácio do Amaral (depois Visconde de Indaiatuba), Joaquim Egídio de Sousa Aranha (depois Marquês de Três Rios), Jorge Guilherme Henrique Krug e Joaquim Quirino dos Santos. Nessa Assembleia foi escolhida a Comissão encarregada de redigir os estatutos da Sociedade, que ficou assim composta: Manuel Ferraz de Campos Salles, Jorge de Miranda e Cândido Álvaro de Sousa Camargo, todos na época, membros da Comissão de Justiça da Loja Independência. 

Em 13 de abril de 1873, foi eleita a nova diretoria da Sociedade, tendo como presidente o Maçom Joaquim Bonifácio do Amaral, secundado pelos também Maçons: Antônio Pompeo de Camargo, Jorge Guilherme Henrique Krug e Dr. Joaquim José Vieira de Carvalho. Nessa data foi lançada a pedra fundamental do edifício, um terreno adquirido em novembro de 1869. O empreiteiro de obras contratado foi o Maçom Jorge Guilherme Henrique Krug. Nesse período, sérias dificuldades financeiras quase paralisaram as obras. Faltavam 32 contos de réis para cobrir o orçamento de 70 contos de réis, quando o Maçom Joaquim Bonifácio do Amaral doou essa importância e o prédio foi concluído no tempo previsto. 

Em 12 de janeiro de 1874 foi inaugurado, solenemente, o “Colégio Culto à Ciência” e concretizado o sonho de Antônio Pompeo de Camargo. Discursou na ocasião, o Secretário da Sociedade, Manoel Ferraz de Campos Salles. 

Do livro: “CULTO À CIÊNCIA, CENTO E TREZE ANOS A SERVIÇO DA CULTURA”, editado em 1986 e com patrocínio da Loja Maçônica Independência, no capitulo FUNDAÇÃO E FUNCIONAMENTO DO “CULTO À CIÊNCIA (pág.17), encontramos e transcrevemos a seguir: O Colégio começou a funcionar regularmente no ano de sua inauguração, ou seja, em 1874. As aulas eram dadas nas salas do primeiro pavimento. No andar superior estavam instalados os dormitórios e a administração. No final do primeiro ano, a escola contava com 60 alunos internos, 10 semi-pensionistas e 14 externos.
O estabelecimento era então, o único do gênero no país, merecendo do Ministro do Império, Conselheiro João Alfredo Correia de Oliveira (também Maçom), uma menção especial pelo importante serviço que estava prestando à instrução pública (ofício de 19 de setembro de 1874).  Iguais louvores lhe fez o Presidente da Província, Dr. João Teodoro Xavier. 

Ainda, do referido livro, do capítulo: “CONTEXTO HISTÓRICO E RAZÕES DA FUNDAÇÃO” (pág. 16), extraímos: A Sociedade Culto à Ciência era constituída, exclusivamente por Maçons, assim como foram Maçons todos os seus diretores e professores até a dissolução da Sociedade. A Maçonaria, que durante o Brasil colônia havia sido o grande centro difusor das ideias liberais, as quais influenciaram os movimentos pela Independência do Brasil, passou a difundir no Império, as ideias positivistas, abolicionistas e republicanas. Para os Maçons, o ensino gratuito era muito importante: eles reclamavam a instrução para todos, gratuita, obrigatória e exclusivamente Laica. Foram os precursores das aulas noturnas, destinadas principalmente aos escravos. Assim, concretizando os ideais Maçônicos, o “Culto à Ciência” foi a primeira escola inteiramente Laica de Campinas. A Sociedade “Culto à Ciência” administrou o Colégio até 1889, quando a epidemia de febre amarela obrigou o seu fechamento. Foi reaberto em 1891.  Em 24 de dezembro de 1892, a Sociedade “Culto à Ciência” se dissolveu e todo o patrimônio passou para o município, conforme previa o artigo 43 de seu estatuto: “No caso de dissolução da sociedade, ficará o patrimônio pertencendo à municipalidade de Campinas para fins unicamente de instrução”. Em 1894, o Congresso Legislativo decretou e o Presidente do Estado, Bernardino de Campos (na ocasião Benemérito do Quadro da Loja Independência), promulgou a lei que autorizava o governo do Estado a entrar em acordo com a Câmara Municipal de Campinas, afim de passar para o Estado a propriedade do prédio em que funcionava o Colégio “Culto à Ciência”.